sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Histórias do Universo 25
III - O Fanático

Colónia Prisional de Phobos [1:40:8]

21 de Dezembro de 2012 CO, 10h00 (hora local)

      Um cargueiro de transporte de prisioneiros acopla-se ao edifício prisão.
120 prisioneiros são transferidos do cargueiro para as celas.
Embora o processo seja automático, frente a um computador, no centro de controlo espacial de Phobos está um guarda que supervisiona todo o processo
– Deixa cá ver se temos prisioneiros especiais... E sim, temos uma estrela!
É mostrado um dossier de Saúl Ardal, membro dos DRH (defensores da raça humana), oficialmente acusado de uso de tecnologia proibida, e com um nota do próprio imperador a condená-lo por assassinato.
Desde que ali estava era a primeira vez que o guarda via uma condenação assinada pelo próprio imperador.
O dossier não dizia quem tinha sido a vítima. Apenas que a tentativa tinha-se dado a bordo do cruzador CRZMAT27112012-001, durante um transporte inter-imperial.
A restante informação estava encriptada, e só pessoas com permissões especiais tinham acesso ao resto.

Cabine de projectos TS-132. Hangar imperial, Marte, [1:40:8]
Um comandante está a falar com um almirante sobre a sua próxima missão.
– Gosto da nave. E a tripulação?
– A tripulação será escolhida em função da missão que escolher.
– Isso é invulgar. Sendo um protótipo...
– Sim, mas serão feitas duas naves destas. Uma terá uma missão de testes durante uma semana. A outra, partirá em missão secreta. Foi-lhe dada a hipótese de escolher qual das duas quer.
– Não posso saber nada sobre a missão secreta antes?
– A missão é secreta. Só sei que para este tipo de missões, os comandantes são muito bem selecionados. Não sei dizer mais nada.
– Estou a ver. E posso ver a lista das tripulações de ambas as naves?
– A da missão secreta, não pode.
– Também são escolhidos?
– Faz todo o sentido acreditar que sim, mas nem eu sei.
– Está bem. Vou pensar no assunto. Dou-lhe a resposta dentro de uma hora.
– Até já, comandante Nakamura.
– Até, já Almirante Ano-Luz.
O comandante sai, e tem o subcomandante Mandado à sua espera.
– Paul, há novidades?
– Sim senhor, acabaram de me transferir para o comando de uma nave de batalha.
– Muitos parabéns pela promoção Pau, vamos ali ao bar celebrar. Pago eu!
Chegados ao bar, encontram-se com Deanna Liran, psicologa-conselheira na anterior nave do comandante Isamu Nakamura.
– Olá comandante, olá subcomandante...
– Agora somos ambos comandantes. O Paul foi promovido.
–Muitos parabéns sub...perdão, comandante Mandado. Eu fui destacada para a colónia prisional de Phobos, vou tratar de casos especiais.
– Parabéns conselheira. Toma qualquer coisa connosco?
– Obrigado senhores, mas vai ter de ficar para a próxima. Tenho mesmo de me dirigir ao transportador civil que parte para Phobos.
– Até à próxima, então.
Deanna saiu.


Colónia Prisional de Phobos [1:40:8]

21 de Dezembro de 2012 CO, 14h00 (hora local)
Deana aproximou-se da cela de Saúl.
– Boa tarde. O meu nome é Deana Liran.
– Boa tarde só se for para si.
– DRH, Tecnologia proibida e assassinato.
– Não insulte a minha inteligência menina. Eu só estraguei um brinquedo de um comandante, e ao que parece, também do imperador.
– O imperador descreve como assassinato.
– O imperador é um idiota.
– Não quer contar-me o que se passou?
– Já sabe o que se passou, ou não estaria aqui.
– Sei o que dizem os documentos que temos a seu respeito. Não conheço a sua versão.
– A minha versão?
– Não gosto de histórias só com uma versão.
– O que espera conseguir com isso? A minha simpatia?
– Não. Apenas a sua versão. Quero compreendê-lo.
– Está bem. Prometo contar-lhe a minha versão um dia. Vou estar aqui imenso tempo. Fale-me de si.
– Não sou eu que estou presa por detrás de grades e um campo de forças.
– “Campo de forças”!...nome muito mal escolhido. Isto é uma coisa muito mais complexa.
– Porque foge ao assunto?
– Estraguei um electrodoméstico, chamam-lhe assassinato, prendem-me e quem tem de consultar um psicologo sou eu?
– Não se esqueça que também usou tecnologia proibída...
– Proibida por estupidez dos imperadores desta galáxia. Mas já agoea, sabe onde obtive essa “tecnologia proibida”? Num armazém por baixo do palácio imperial em Jupiter.
– Uma coisa de cada vez. Porque foi que assassinou NIA?
– Avariei uma máquina. Não lhe chame assassinato! Não insulte a minha inteligência!
– Porque o fez?
– Andava entre os humanos como se fosse um deles. Era difícil não reparar nela. Muito bonita, inteligente, única, mas não era humana.
– Como percebeu isso?
– Não percebi. Era um disfarce perfeito. Um androide entre nós. Nem os sensores biométricos do palácio detectavam. Só mesmo um exame médico poderia acusar.
Muitos tentaram aproximar-se dela, sem grande sucesso. Só um capitão da Aliança, ao que parece, amigo de longa data, conseguia passar imenso tempo com ela. Eventualmente um dia, começaram a namorar.
– Como a conheceu?
– Há cerca de quatro anos, começou a trabalhar na biblioteca imperial do palácio.
– Biblioteca?
– Sim, os nossos armazéns de conhecimento?
– Sim, eu sei o que são, mas desde há milénios que, para aceder a uma biblioteca, ninguém se desloca-se fisicamente até ela. Como se cruzou com ela?
– A biblioteca do palácio não está ligada à Internet-U. Temos mesmo de nos deslocar fisicamente até lá.
– Está bem. Então, como foi que descobriu que a rapariga era um androide?
– Um dia, o próprio imperador mostrou-nos um holo-esquema dela. Pediu-nos que estudássemos a tecnologia. Para mim foi um choque.
– Como assim?
– Ela representava tudo aquilo a que eu me oponho. Revolta-me saber que um ser humano que poderia estar a namorar uma mulher namorava uma coisa.
– Até saber, você também a considerava uma pessoa.
– Mas ela não era uma pessoa! Não era um organismo natural!
– Em todo o universo existem pessoas que usam todo o tipo de próteses e mecanismos...
– É anti-natura!
– E usar um tele-transportador para cometer um assassinato não é?
– Eu não assassinei ninguém! Usei um teletransportador para avariar uma coisa! Fiz um serviço à minha causa e à raça humana!
– Isso não lhe parece um pouco arrogante?
– E não lhe parece arrogante haver um Imperador que nos diz que tecnologia é proibida ou não, mas deixar uma andróide mais sofisticada do que qualquer coisa que já tenha passado pelas mentes dos melhores cientistas e engenheiros do Império, e quem sabe do universo?
– É diferente.
– Sim, em quê? Nem sequer foi o povo que o pôs naquele lugar!
– Os átomos do seu corpo tiveram escolha quando foram colocados no seu organismo? Você decide as acções do seu organismo, mas a maioria dos átomos do seu organismo nem teve voto na matéria.
– Que exemplo mais estúpido, os átomos não têm vontade própria.
– A vontade própria é importante? Você matou uma antroide que tinha vontade própria.
– Vontade própria o tanas.. tudo programado.
– Tem a certeza? Percebeu os holo-esquemáticos dela?
– Não. Só percebi que, como mesmo internamente ela era muito semelhante a um ser humano, bastava-me fazer-lhe buracos no pseudo-cérebro, no pseudocoração e nos pseudo pulmões. Mas ainda hoje aquele holo-esquema está a ser estudado.
– Então como pode garantir que ela não tinha vontade própria?
– Ela tem pseudo-vontade própria, implementada por processos e algoritmos bioquímicos e computacionais.
– Ainda não percebi, como é que foi um serviço à raça humana, nem à sua causa.
– Homens devem relacionar-se com membros da sua espécie. Ponto!
– Está bem, percebo...
Pelas 16h00m, Deanna saiu e regressou a Marte.

Espaçoporto imperial de Marte; Hangar, [1:40:8]

Ao chegar ao Hangar, ainda na nave de transporte, Deanna assistiu à fase final da montagem do destruidor DSTMAT21122012-PRT, o “fim-do-mundo”.
Á sua espera, à chegada estava o comandante Mandado.
– Olá outra vez Deanna.
– Olá Paul. Aquela é a tua nave?
– Oh, não, é a do comandante Nakamura. A minha vai ser construida logo depois. Estás livre para um café?
– Um café?
– Sim, aquela bebida famosa da Terra original...
– Não é isso, eu sei o que é um café... que se passa?
– Prefiro, falar fora daqui se não te importas.

Estação de Hipercomboios, pouco depois.
– Que se passa?
– Chegou ao meu conhecimento que um amigo meu está preso e foi transferido para a prisão em Phobos. Sei que agora tens alguns casos lá. Podias passar pela cela dele e ver como ele está de vez em quando? Ele não tem muitos amigos por aqui.
– Se ele está em Phobos, deve ter cometido um crime imperial. Que crime cometeu ele?
– A ficha dele diz que cometeu um assassinato com tecnologia proibida. Chama-se Saúl Ardal.
– O teu amigo é um fanático dos DRH.
–DRH? Tens a certeza? Tu conhece-lo?
– É um dos meus casos. Não posso discuti-lo contigo, nem com ninguém abaixo de almirante. Aliás, eu nem devia dizer-te isto.
– Ardal nos DRH? Custa-me a crer...
– Acredito que sim.
– Há alguma coisa que possas dizer-me que não viole o teu sigilo profissional?
– Sim, que ele está bem.
– Fomos colegas na academia Imperial, há muitos anos...
– Paul, não te preocupes, ele está bem entregue, e sairá dali outro homem. Quem sabe, o amigo que conheceste.
– Fico feliz por seres tu.

Ao fim do dia, já em casa, Deanna recebe uma comunicação vinda de Phobos.

“Dra. Liran, o prisioneiro Ardal escapou da prisão, se não o encontrarmos vamos ter de cancelar a consulta da próxima segunda-feira!”.
– Como foi que ele escapou de uma prisão de segurança máxima com vários escudos protectores?
"Por mais incrível que pareça... com um tele-transportador!"

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